O assunto parece recorrente, mas a cada dia, talvez por conta da quase onipresente fúria da natureza nos últimos tempos, há um reforço nas tendências de consumo que carreguem um apelo ecológico, não só nos estilos, mas também na fabricação. Tudo que preserva, procura não agredir e trata o usuário e o seu entorno tem recebido o rótulo de atitude "verde" ou “green” para os mais bacanas. Nesse contexto está a produção transparente, pela qual as empresas se preocuam em permitir que os consumidores conheçam a fundo os processos produtivos.
Com as variações de índices que medem a crise econômica mundial, e a recessão de consumo subsequente, a luta pelo consumidor se acirra, e ganha aquele que tiver o melhor desempenho. Nos tempos atuais, é preciso considerar que leva vantagem quem for mais "verde".
Vale lembrar que não se trata da cor propriamente dita, mas de tudo aquilo que esta tonalidade possa simbolizar. Mas, por que não apostar numa cartela de cores onde o verde seja predominante? Sim, o verde, em qualquer tom, parece ser a cor da vez, talvez até um cenário positivo para o pós-crise.
Não se pode esquecer que, na situação atual, quanto mais sustentável for o mundo após o "ajuste forçado" com a recessão, melhor para todos. E é bem provável que o consumidor com o bolso raso se torne mais seletivo e exigente, fazendo questão de saber como as marcas que consomem se comportam nos bastidores.
Essa nova atitude de consumo com os olhos bem abertos promete ser uma das grandes tendências de comportamento para o futuro. A novidade virá no discurso em demonstrar que se está politicamente engajado nas causas ecológicas. E aí, como tudo que vira moda, quanto mais "fundamentalista", mais “cool”.
Para as empresas, depois da retração do consumo, parece ser um prato cheio. A disputa por produtos e serviços cada vez mais "verdes" promete alcançar a estratosfera, assim como a respeitabilidade dos seguidores da sustentabilidade com responsabilidade.
Para se ter uma ideia do que já se delineia, no outro lado do mundo, especificamente na Nova Zelândia, uma empresa de roupas e acessórios de lã criou uma forma de produção transparente ao envolver o seu consumidor profundamente. A Icebreaker, famosa pela qualidade do seu fio de lã merino, agora expõe todos os seus parceiros e fornecedores, por meio de um código digital.
Produção transparente das peças da Icebreaker pode ser acessada no site da empresa/ Fonte: site Icebreaker
Explicando melhor, nessa produção transparente cada peça comercializada pela marca neozelandesa traz uma "Baacode", ou seja, uma referência presente em cada peça que torna possível o rastreamento de todo o processo produtivo pelo qual a roupa passou, desde as condições e localização dos animais que produziram aquela lã, até o processo de confecção propriamente dito. Para isso, basta colocar o código no site da empresa, onde é possível ainda testar uma demonstração.
Será que num futuro próximo poderemos ter essa produção transparente acessível para saber se o algodão da nossa calça comprida levou agrotóxico ou de qual país foi extraído o petróleo que gerou a nossa camiseta de poliamida? Nada mal se realmente incorporarmos o espírito do comércio justo, da sustentabilidade e da responsabilidade ambiental. Dedos cruzados, e por que não, esverdeados!
Por Maria Alice Rocha
Doutora (PhD) em Design de Moda
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