As relações do corpo com as artes e da arte com a moda sempre intrigou artistas e designers. Nesse sentido, surgem questões como: os limites do corpo são barreiras para a criação artística? E o processo de criação do designer de moda também deve ser limitado pelo corpo humano? Afinal, o corpo determina os padrões de comportamento, ele desmistifica os segredos guardados embaixo dos limites físicos? Quem determina o que somos hoje, nossa mente ou o corpo, enquanto matéria?

Importante destacar que a importância do corpo para o homem é algo mais antigo do que podemos supor. A busca pela beleza e juventude já estavam presentes nas artes e literaturas grega e romana, com Apolo, Narciso, Vênus, para citar alguns que têm histórias ou esculturas retratadas pelo aspecto da beleza física.

A arte e a moda se unem e mostram suas relações com os limites do corpo na obra de Nazareth Pacheco/ Fonte: site Samianascimento

Isto mostra que o homem está na eterna busca da estética perfeita, do belo, da perfeição que o aproximará dos deuses, e esta busca perdura até os nossos dias, só que os padrões mudam e no contemporâneo ele pode ser conseguido artificialmente por meio da tecnologia. O corpo ideal já pode ser comprado!

A artista Nazareth Pacheco, utiliza essa relação do feminino com o corpo idealizado para sua criação. Ela diz ser uma criação quase autobiográfica, pelo fato de ter nascido com alguns problemas de saúde e ter se submetido a muitas cirurgias, que posteriormente foram recorrigidas em cirurgias estéticas. Os limites do corpo nas suas obras, uma vez que corpo e moda são suportes para a imaginação sem limites da artista.

Em entrevista a Tadeu Chiarelli a artista responde a algumas questões:

“ A necessidade de adaptação do corpo a um modelo ideal (e irreal) de beleza inscreve-se no quadro autoritário da sociedade que impõe à mulher a necessidade de construção de uma persona, uma máscara adequada a padrões quase sempre inatingíveis. Como você transformou essa questão em arte? Ou melhor, em que medida sua experiência de vida foi "traduzida" para o campo da arte?

Nazareth Pacheco – Por meio de questões ligadas à identidade e à memória. Chegou um momento em minha vida em que a questão do modelo ideal de beleza passou a ter um peso grande e foi por meio desta questão que, trabalhando com esses dados, a minha experiência de vida foi "transformada" em arte, mas com uma grande preocupação formal e estética ao realizar os chamados "objetos de arte".

Essa relação conflituosa entre aquilo que você "deveria aparentar" (dentro dos padrões estéticos estandardizados) e sua aparência real levou-a à produção de objetos de adorno, em que a sedução do brilho dos materiais escondia o perigo real da mutilação, do ferimento em quem ousasse vesti-los ou mesmo manipulá-los. Fale um pouco da perversidade implícita nessa fase de sua produção.

Nazareth Pacheco – Não posso negar a perversidade presente nos colares e vestidos, mas acima de tudo os materiais cortantes e de perfuração escolhidos para confecção desses objetos estavam diretamente ligados a objetos que sempre me causaram medo e pânico: agulhas, lâminas etc., as quais sempre eram utilizadas nas cirurgias às quais me submeti. Mas, por outro lado, utilizo cristais, pérolas; materiais extremamente sedutores que se tornaram desejados através de suas formas e brilhos. Ao desejar alcançar o belo, tenho que me submeter a cortes e perfurações.”

Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós-Graduação em Moda no Unipê/JP

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