Você já se pegou lendo sobre as tendências de moda e viu que só se fala em Art Déco e anos 1920? Aí você se pergunta: o que uma década ou essa tal de Art Déco tem a ver com moda?
Pois, é bom saber que as tendências não surgem por acaso e nem tem referências dentro da própria moda. Elas surgem a partir de um processo de pesquisa e criação que tem muito mais a ver com o estilo de vida e de pensar da sociedade do que com a simples confecção da roupa. Este processo de interpretar os sinais que influenciarão a criação de produtos (inclusive de moda), a tecnologia, a arquitetura e outras mil áreas, é chamado de prospecção de tendências e surge a partir do que se costuma nomear pelas ciências sociais e humanas de “espírito do tempo” ou “zeitgeist”.
Se fizermos uma análise de como surge uma tendência, veremos como os costumes, os hábitos de consumo, a comunicação de massa, a forma de pensar (thinkstyle) e o estilo de vida (lifestyle) de toda uma sociedade acabam por influenciar o processo criativo. A moda, claro, nunca se desliga ou está à parte destes sinais emitidos pelas pessoas o tempo inteiro. Descobrir o que as pessoas vão desejar antes mesmo delas expressarem este desejo é o grande desafio da criação e prospecção de tendências e ao mesmo tempo, exige um esforço grande de pesquisa, pois o desejo nasce no campo da subjetividade e da intangibilidade, nem sempre expresso em palavras ou em produtos palpáveis.
Exemplos do movimento Art Decó típico dos anos 1920/ Fonte: site Modices
Voltando a falar em Art Déco e anos 1920, onipresentes em quase todas as coleções de moda deste inverno e até do próximo verão, é uma tendência que surge na moda no momento em que o cinema faz um resgate dessa década, e consequentemente, do provável movimento artístico e arquitetônico mais popular da época.
Ao vermos filmes com sucesso de público e bilheteria retratando esta década de efervescência cultural, a exemplo de Hugo (Martin Scorsese), Meia Noite em Paris (Woody Allen), O Artista (Michel Hazanavicius) e O Grande Gatsby (de Baz Luhrmann, recém lançado), percebemos que um perfume de saudosismo encontra-se no ar e que tem relação com um desejo de desacelerar um pouco e voltar ao menos em alguns aspectos, ao passado.
Até o blockbuster Os Vingadores tem como centro das atenções o céu de New York com seu imponente e representativo prédio da Chrysler, símbolo da arquitetura Art Déco na cidade, unindo os altos efeitos especiais a um símbolo tão tradicional novaiorquino. Vivienne Westwood diz que “a história é sempre mais interessante que o presente”, o que se confirma no filme “Meia noite em Paris” de Woody Allen, quando o desejo de retorno ao passado sempre se faz presente em todas as gerações.
Cena do filme Meia Noite em Paris/ Fonte: site Bacon Frito
Esse saudosismo nos mostra que sempre estamos em busca de um tempo melhor para viver, que o que temos nas mãos nunca é o bastante e que, embora a ciência olhe para frente, o homem olha para trás em busca do tempo perdido que não volta mais e parece estar sempre a fazer promessas de que uma época melhor já existiu. Haverá melhor representante de sentimentos tão dialéticos quanto este do que a moda? Esta, representante do presente, do futuro e do efêmero e que rapidamente se transforma em passado.
Looks inspirados em Art Déco e anos 1920: Marni, Alberta Ferretti, Etro e Gucci/ Fonte: site Dellano
Por Gabriela Maroja
Professora e Coordenadora da Graduação e Pós Graduação em Moda do Unipê/JP
